A podridão floral dos citros, conhecida popularmente como “estrelinha”, é causada pelo fungo Colletotrichum acutatum. Ele afeta flores e frutos recém-formados de quase todas as variedades de citros de interesse comercial. De modo geral, a doença é mais frequente e danosa nos pomares de laranjeiras doces, limões verdadeiros e limas ácidas. As infecções podem ocorrer em todos os estádios de florescimento da planta, porém, é mais importante a partir da fase de cotonete e por ocasião da abertura das flores. É uma doença de ocorrência esporádica que provoca epidemias severas nos anos em que as chuvas são mais intensas durante a florada.
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
A doença é encontrada em todas as regiões tropicais e subtropicais úmidas das Américas. Primeiramente, em 1957, foi observada em pomares de laranjeira ‘Valência’ [Citrus sinensis (L.) Osbeck] em Belize, na América Central, e nos anos subsequentes foram notificados casos na Argentina, Colômbia, Panamá, República Dominicana, Trindade, México, Estados Unidos, Costa Rica e Jamaica. No Brasil, o primeiro relato ocorreu em 1977, no Rio Grande do Sul, e atualmente é encontrada em todos os estados brasileiros produtores de citros. No estado de São Paulo, a sua importância teve maior destaque a partir dos anos 90 e, desde então, sua presença tem sido rotineira nos pomares, especialmente nas regiões Sul e Sudeste do estado.
CARACTERÍSTICAS
Colônias de C. acutatum são usualmente de coloração branca no início e posteriormente tornam-se de rosa a alaranjado devido às massas de conídios. A produção primária de conídios ocorre nos acérvulos. Contudo, o C. acutatum pode formar conídios em conidióforos que emergem diretamente das hifas, além de conídios secundários, a partir da germinação de conídios primários. Os conídios são usualmente elipsoides e fusiformes, pelo menos em uma das extremidades. Apressórios pigmentados são produzidos com a germinação dos conídios e variam de forma e tamanho.
CICLO REPRODUTIVO
O C. acutatum assume duas formas de parasitismo nas plantas: a forma biotrófica (com pouco ou nenhum dano aparente para o hospedeiro), que ocorre nas folhas, e a forma necrotrófica (com morte das células do hospedeiro), que ocorre nas flores. Nas folhas, os conídios do fungo formam estruturas de adesão e de persistência, chamadas apressórios. Quando ocorre o florescimento, a água das chuvas transporta os extratos das flores para as folhas. Esses extratos induzem à germinação dos apressórios que formam conídios secundários. Respingos de chuvas transportam esses conídios para as flores, onde germinam e colonizam as pétalas, produzindo conídios primários em acérvulos (conidióforos). Durante a produção dos conídios, ocorre, simultaneamente, a produção de uma matriz gelatinosa que os envolve, constituída predominantemente por polissacarídeos e proteínas solúveis em água. A dispersão dos conídios ocorre pela água da chuva ou de irrigação, por insetos, vento, utensílios agrícolas e manuseio das culturas.
DANOS
O fungo infecta flores e produz lesões róseo-alaranjadas nas pétalas e lesões escuras no pistilo (estilete ou estigma). Nas flores infectadas há alterações hormonais que tornam os frutos cloróticos e os derrubam precocemente, deixando seus cálices retidos aos ramos das árvores (estrelinhas) por até 18 meses, prejudicando a próxima florada. Às vezes os frutos não chegam a cair, porém, afetados pela doença, permanecem e desenvolvem-se deformados e pequenos. Devido à baixa taxa de fixação de frutos em relação à quantidade de flores formadas, assim como às perdas causadas por quedas naturais e outros fatores, estima-se que 5 a 6 frutos sejam perdidos para cada 100 cálices retidos formados como resultado do ataque da doença.
CONTROLE E MANEJO
A principal estratégia de manejo da podridão floral é o controle químico, realizado por meio de pulverizações preventivas com fungicidas sistêmicos no período do florescimento. Além do controle químico, é recomendável utilizar outras medidas que contribuem para antecipar, uniformizar ou reduzir o período de florescimento, como manejo da irrigação, da adubação e da sanidade do pomar, além do monitoramento da florada e do clima.
IMPACTOS NA SOCIEDADE
A citricultura representa um dos mais importantes segmentos na estrutura socioeconômica do Brasil. O país é o maior produtor e exportador mundial de suco de laranja e exporta 98% do que produz. Entretanto, fatores como a presença de doenças agrícolas impedem que a produtividade brasileira seja maior. Sob condições ambientais extremamente favoráveis ao desenvolvimento da podridão floral, pode haver perdas de até 100% da produção. No Estado de São Paulo, há registros de perdas significativas em muitos pomares das principais regiões produtoras, com redução de até 80% da produção.
Literatura consultada
Azevêdo, C. L. L. Sistema de produção de citros para o Nordeste – Doenças. Cruz das Almas, BA: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2003. (Sistema de Produção, 16)
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