Apicultura migratória e os riscos associados dessa atividade quanto a doenças endêmicas e o transporte dessas a outras regiões

* Heber Luiz Pereira

A apicultura na modalidade migratória tem grande relevância econômica, tanto na produção de mel como nos serviços de polinização. Nessa modalidade de atividade apícola, as colmeias são transportadas para locais onde estão ocorrendo ou onde irão ocorrer floradas – fonte de néctar e pólen para as abelhas, permitindo assim uma boa alimentação para as crias. Além disso, a polinização realizada pelas abelhas traz diversos benefícios para o agricultor, pois aumenta a capacidade germinativa, aumentando a produção e qualidade de sementes e frutos, bem como a vida útil dos frutos.

Contudo, o transporte de abelhas e, principalmente, a modalidade de apicultura migratória, são responsáveis por duas situações envolvendo a sanidade de abelhas: a transmissão e/ou introdução de doenças novas na região de destino, causando prejuízos econômicos, tanto aos apicultores fixos da região, quanto aos que praticam a modalidade migratória; e a debilidade do sistema imunológico das abelhas transportadas, que ficam mais sensíveis a doenças, aumentando as taxas de infecção ou infestação de alguns patógenos.

Além disso, quando o assunto é abelhas africanizadas, além de ser uma carga sensível, existe ainda um potencial risco no caso de incidentes com a carga, quando não observadas as condições de segurança, sendo indispensável um planejamento para a migração, bem como, cuidados básicos durante o transporte, isso pois, o transporte é um dos manejos mais pesados realizados pelo apicultor, e gera um estresse nas colônias. Sendo assim, as abelhas transportadas precisam de maior atenção para que o estresse não comprometa seu desenvolvimento e não seja um facilitador de causas de mortalidade.

Se o transporte não for bem executado, muitas abelhas podem se perder, ficando no antigo apiário ou pelo caminho. O enfraquecimento populacional pode representar uma menor produção e maior tempo de recuperação. Além de doenças e depressão do sistema imunológico, as abelhas podem ficar mais sujeitas a intoxicações, devido a uma maior exposição, esta provocada pelo aumento de competição por recursos florais, reduzindo a seletividade das abelhas, pois na apicultura migratória é comum uma grande densidade de colônias em uma mesma região.

Para a redução de problemas atrelados ao transporte de colônias algumas boas práticas são recomendadas:

  • Planeje o transporte, considerando as rotas, dia, horário e previsão climática, pensar também em pontos de apoio no trajeto caso haja algum imprevisto; É necessária a presença de pelo menos um apicultor com experiência comprovada com abelhas.
  • Prepare as caixas quando as abelhas campeiras retornam para a colméia, normalmente no final do dia;
  • Verifique furos nas colmeias e retire favos cheios de mel (que podem se romper e afogar as abelhas no mel, além de tornar mais leve a carga para o transporte);
  • Procure, se possível, fazer o transporte à noite;
  • Faça um rápido carregamento e descarregamento da carga para reduzir o estresse;
  • Carregue a documentação necessária, nota do produtor se for venda, e guia de trânsito animal (GTA);
  • Identifique a carga com os dizeres “Cuidado abelhas” ajuda a afastar curiosos;
  • Feche as colmeias individualmente com tela ou apenas a carga total, de forma que haja uma boa troca de ar;
  • Forneça água através de aspersão quando perceber que o calor pode afetar as abelhas (evitar temperaturas altas); No caso de transporte refrigerado a carga deverá ser fechada com temperatura e circulação de ar adequado ao bem estar das abelhas.
  • Evite o transporte em dias de chuva, que obriguem a cobrir as colmeias com lonas, o que aumentaria muito a temperatura comprometendo a sobrevida das abelhas;
  • Verifique o local de destino, descarregando as abelhas em local seguro de aplicações de defensivos agrícolas, e com o consentimento do proprietário da área;
  • Forneça alimentação suplementar se necessário.

Não se esqueça que é necessário reconhecer que existe um risco atrelado ao transporte de abelhas e compreender a importância que o cadastro, juntamente com controle do trânsito através da GTA, tem sobre a segurança sanitária das abelhas e as questões comerciais. Proteger os polinizadores é um compromisso a ser assumido por todos, especialmente por quem tira seu sustento da apicultura.

É preciso ampliar o conhecimento sobre o assunto para que as boas práticas apícolas sejam aplicadas. E esse conhecimento deve ser absorvido por todos os apicultores e demais profissionais envolvidos. Algumas iniciativas do tipo já estão disponíveis e são gratuitas. A Plataforma de Treinamentos On-line do Sindiveg (www.sindiveg.org.br/cursos), por exemplo, já conta com seis módulos e mais de 15 mil inscritos, fornecendo informações de qualidade e certificação.

* Heber Luiz Pereira é consultor do Sindicato Nacional Da Indústria De Produtos Para Defesa Vegetal (Sindiveg) e parceiro na Plataforma de Treinamentos para Boas Práticas entre Agricultura e Apicultura. Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Além de Mestrado e Doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá. Se dedica à apicultura trabalhando com pesquisa, assistência técnica e capacitação na área apícola e é sócio proprietário na empresa HP Agroconsultoria – ME que oferece serviços de consultoria e assessoria técnica para outras empresas/instituições que visam a preservação e manutenção de abelhas nas ações pró sustentabilidade.

Sobre o Sindiveg

Há mais de 80 anos, o Sindiveg,Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal, atua no Brasil defendendo a agenda da indústria de defensivos agrícolas e dando voz legalmente a essa indústria de produtos em todo o território nacional. Atualmente, representa 27 associadas, aproximadamente, 40% do mercado brasileiro. Tendo como propósito a promoção da produção agrícola de forma consciente, com o uso correto dos defensivos, o sindicato tem como objetivo apoiar o setor no desenvolvimento de pesquisas e estudos científicos, na promoção do uso consciente de defensivos agrícolas, sempre respeitando as leis, a sociedade e ao meio ambiente.

Sobre o Colmeia Viva

O setor de defensivos agrícolas reconhece seu papel na construção de uma relação mais produtiva entre agricultura e apicultura* e na proteção das abelhas, incentivando o diálogo entre agricultores e criadores de abelhas, visto que introduz no campo um produto que deve ser usado para proteger as culturas.

Conheça as iniciativas do programa: https://sindiveg.org.br/iniciativas/