O ácaro da leprose dos citros (Brevipalpus phoenicis) é considerado uma praga-chave para a citricultura brasileira por atacar frequentemente as laranjeiras doces durante todo o ano e causar grandes prejuízos quando não controlado adequadamente. Além de gerar danos diretos às plantas infestadas, ele é vetor potencial do vírus “Citrus Leprosis Virus” (CiLV), agente causal da leprose, uma das mais graves doenças da citricultura brasileira devido ao seu potencial de acarretar perdas de produção e reduzir a vida útil das árvores.
O ácaro não nasce contaminado, mas adquire o vírus da leprose ao se alimentar de um tecido contaminado. Uma vez infectado, é capaz de transmitir o vírus por toda a sua vida em qualquer estádio do seu ciclo biológico. A virose não é sistêmica, ficando restrita ao local da alimentação, e as fêmeas não transmitem o vírus aos seus descendentes.
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
O ácaro apresenta ampla distribuição geográfica, ocorrendo em diversos países, principalmente naqueles situados entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio. No Brasil, ocorre nos estados de São Paulo, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina, Pernambuco e Ceará, podendo ser encontrado em várias outras regiões em razão do grande número de espécies vegetais que o hospedam.
CARACTERÍSTICAS
O ácaro B. phoenicis apresenta o corpo achatado, com quatro pares de pernas e possui duas setas sensoriais. As fêmeas medem aproximadamente 0,30 mm de comprimento por 0,16 mm de largura, possuem coloração alaranjada, com manchas escuras no dorso, que variam com a temperatura, tipo de alimentação e idade do espécime. Os machos são semelhantes às fêmeas e representam aproximadamente 1% dos indivíduos, porém seu tamanho é um pouco menor e a extremidade posterior do corpo é mais afilada. É caracterizado por possuir duas setas sensoriais.
CICLO REPRODUTIVO
O ciclo biológico de B. phoenicis apresenta as fases de ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto, sendo que cada ínstar tem um período ativo e outro quiescente. Durante os períodos quiescentes, as quelíceras são inseridas no tecido vegetal para melhor fixação na planta hospedeira. Logo após a postura, os ovos são alaranjados, moles e bastante adesivos e, em poucos minutos de exposição ao ar, tornam-se firmes e brilhantes. Os ovos são colocados, geralmente, em locais protegidos, de preferência em frutos com lesões de verrugose, localizados no interior das plantas e em ranhuras dos ramos. A larva totalmente desenvolvida apresenta coloração alaranjado-opaca e chega a medir 0,13 x 0,08 mm. Sua eclosão acontece entre o sexto e o oitavo dia após a postura. A protoninfa difere da larva por ser maior e por apresentar quatro pares de pernas, é mais ativa e, logo após a ecdise, inicia a alimentação, podendo atingir 0,25 x 1,5 mm. A deutoninfa é semelhante à protoninfa em coloração, alimenta-se ativamente e, depois de um período de imobilidade, sofre a terceira ecdise, surgindo o adulto. O ciclo de vida do ácaro (de ovo a adulto) dura em torno de 17 dias em períodos quentes e de 35 dias em condições frias. A disseminação é feita pelo vento, aves, insetos e pelo homem durante as práticas culturais.
DANOS
O ácaro provoca lesões nos frutos, levando a perdas consideráveis nos pomares atacados. A doença afeta também os ramos e as folhas, quando em maior nível de infestação, onde provoca manchas marrons circundadas por um halo amarelado. As folhas caem após 12 semanas do ataque do ácaro. Dependendo da severidade, pode causar redução de 30 a 100% na produção do ano, pela depreciação de frutos para mercado e queda prematura dos frutos e folhas, e também na produção dos próximos anos, pela seca de ramos e diminuição da vida útil da planta.
CONTROLE E MANEJO
A principal prática adotada pelos citricultores para o controle do ácaro da leprose, e conse-quentemente da doença, tem sido a pulverização das plantas com acaricidas seletivos e com mecanismos de ação distintos. Porém, a eficácia no controle da doença depende da adoção conjunta de medidas de controle da população do ácaro e eliminação das fontes de inóculo do vírus. Para reduzir a população de ácaros, além da pulverização, as medidas recomendadas são: plantar mudas isentas do ácaro; desinfestar veículos e caixas de coleta; eliminar plantas daninhas hospedeiras do ácaro; empregar práticas que favoreçam a população de inimigos naturais; controlar a verrugose e a larva minadora que podem proporcionar abrigo para os ácaros; reduzir a produção de poeira na área, que serve como refúgio para os ácaros; utilizar cobertura verde com espécies de plantas não favoráveis ao ácaro; optar por quebra-ventos e cercas vivas desfavoráveis ao ácaro e realizar amostragens das plantas durante o ano, mesmo quando não há presença de frutos. No caso das fontes de inóculo do vírus, recomendam-se o plantio de mudas sadias; eliminar plantas daninhas, cercas vivas e quebra-ventos hospedeiros do vírus; colher os frutos assim que possível e realizar podas das partes das plantas afetadas pela doença. Práticas complementares que devem ser realizadas são: manter o equilíbrio nutricional das plantas; evitar o trânsito de material de colheita de um pomar para outro; evitar o trânsito de veículos de transporte de frutos no interior dos pomares e manter vegetação em cobertura nos pomares.
IMPACTOS NA SOCIEDADE
Em decorrência dos danos causados pela doença, há um aumento dos custos de produção para os produtores decorrentes do controle da leprose e do vetor, da recuperação de árvores debilitadas e da renovação prematura do pomar. Estimam-se gastos anuais, somente com acaricidas para controle de ácaros na citricultura, da ordem de 90 milhões de dólares. Entretanto, estes custos podem ser maiores se forem considerados os custos das operações de aplicação de acaricidas e de poda.
Literatura consultada :
Aguiar-Menezes, E. de L.; Aquino, A. M. de; Correia, M. E. F.; Menezes, E. B. Ácaros: Taxonomia, bioecologia e sua importância agrícola. Seropédica/RJ: Embrapa Agrobiologia, 2007.
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Charadia, L. A.; Souza, l. C. Flutuação populacional do “ácaro da leprose” Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) (Acari, Tenuipalpidae) em pomares de citros do oeste catarinense. Pesquisa Agropecuária Gaúcha, v. 7, n. 2, p. 201-209, 2001.
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