Defensivos agrícolas: aliados na proteção do meio ambiente

*Por Júlio Borges Garcia

A agricultura brasileira se tornou líder mundial em produção de alimentos e preservação ambiental com base em muita pesquisa, desenvolvimento agronômico e, por que não dizer, superação dos seus agricultores. Mas um aspecto chama a atenção: ao longo das últimas décadas, o desafio do combate às pragas no campo – um dos maiores desafios dos produtores rurais por estarmos num país de clima tropical, com mais de uma safra anual, o que favorece o contínuo surgimento desta ameaça – tem sido superado pelo decisivo avanço da ciência na proteção de cultivos. Afinal, são os defensivos que permitem às plantas crescer e dar resultados, ao protegê-las do ataque e da proliferação de insetos, doenças e plantas daninhas, fazendo-os alcançar ainda mais o seu potencial produtivo.

Mais do que isso. A disseminação de boas práticas e o uso correto e seguro na aplicação de defensivos tem impacto direto na não existência de contaminação – já que, se um alimento está com pragas ele não será colocado à venda. Primeiro porque, uma vez controlada a infestação, auxilia o produtor rural a manter em equilíbrio a produtividade da lavoura e, em consequência, a utilização racional de uma série de outros insumos necessários ao cotidiano da atividade agrícola: água, combustível de maquinários e elementos de tratos culturais, só para citar alguns. 

Segundo porque atua em outros aspectos biológicos e ambientais menos conhecidos pela maioria da população. Trago alguns exemplos. A mosca-branca quando ataca a planta deixa resíduos que propiciam o surgimento de um fungo que se desenvolve nas folhas, tornando-as escuras, o que prejudica a realização da fotossíntese. Já as plantas atacadas pelo percevejo-castanho-da-raiz apresentam baixo desenvolvimento por deficiência nutricional e hídrica, pois o inseto suga a seiva e injeta substâncias tóxicas. O vegetal, enfraquecido, morre. As larvas conhecidas como larva-alfinete alimentam-se das raízes das plantas, reduzindo a sustentação e a absorção de água e nutrientes. E os adultos desta espécie fazem perfurações e cortes em brotações e flores.

O bicudo-do-algodoeiro é um inseto cujos alvos são os botões florais, que acabam ficando com as folhas abertas, depois ficam amarelados e caem. O bicudo também pode atacar as flores e as maçãs da planta. A população do pulgão-raiz, por sua vez, é formada de fêmeas que se reproduzem sem acasalamento. Tanto as formas jovens como as adultas removem fluídos das plantas. Quando estão em grande número elas injetam toxinas que causam alteração no sistema radicular, amarelecimento das folhas e paralização do crescimento do vegetal. Os prejuízos são maiores nos anos de seca. E o capim-colchão é um exemplo de planta daninha bastante agressiva em solos férteis. Ele promove interferências pela competição de recursos de crescimento, como água, luz, CO2 e nutrientes, exercendo inibição química sobre o seu desenvolvimento, fenômeno conhecido como alelopatia.

A lista é enorme e mostra o tamanho do desafio. E é por isso que a produção de alimentos e a defesa ambiental deve ser um esforço conjunto de toda a sociedade: governo, com a deliberação das devidas políticas públicas; das entidades setoriais, oferecendo capacitação e conhecimento; das empresas, entregando defensivos cada vez mais eficientes; do agricultor, cada vez mais consciente das boas práticas da sua atividade; e da população em geral, principalmente aquelas dos centros urbanos, em se informar melhor e conhecer mais da agricultura brasileira. Todos ganham.

Evidentemente, há um longo caminho a ser trilhado. Em nosso segmento, estamos apostando muito em termos de treinamento e capacitação dos agricultores. Existe meta para isso: até 2026, capacitar cerca de dois milhões de pessoas que executam a atividade de aplicação de defensivos, por meio do Programa Aplicador Legal. Trata-se de uma iniciativa realizada em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária, que, juntos, lançaram o Programa Nacional de Habilitação de Aplicadores de Agrotóxicos e Afins, ou simplesmente Aplicador Legal.

A medida é prevista no Decreto Nº 10.833/2021, que determinou a criação de registros de aplicadores, com a obrigatoriedade de treinamento para estes profissionais do campo e no auxílio ao combate à desinformação sobre o uso desses insumos na produção agrícola. 

Para isso, o Sindiveg criou uma plataforma de treinamentos, disponível em https://sindiveg.org.br/cursos/. São cursos online inteiramente gratuitos, que podem ser acessados a qualquer momento e voltado a todos os públicos por sua linguagem intuitiva. Os módulos de treinamento contemplam temas como a segurança no transporte e armazenamento dos defensivos, tecnologia de aplicação de produtos, primeiros socorros, entre outros.

De acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, até 2030 o mundo precisa dobrar a produtividade agrícola (em apenas sete anos!), reduzir pela metade o desperdício de alimentos e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento. Sem dúvida o Brasil tem lugar de destaque nesta jornada. Mas, para que o planeta consiga alcançar a oferta de alimentos de que tanto necessita, de forma segura e sustentável, definitivamente as tecnologias de proteção de cultivos terão papel decisivo.

*Júlio Borges Garcia é presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg)


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